SÃO PAULO - Lars Rasmussen diz que o plano é tomar o lugar do e-mail e das mensagens instantâneas.
Ambição é o que não falta no Google Wave. Misturando e-mail, mensagens instantâneas e edição colaborativa de documentos, o novo serviço tem a intenção de mudar a maneira como as pessoas se comunicam na internet. O Wave é uma criação dos irmãos Lars e Jens Rasmussen, que também trazem, no currículo, a autoria do serviço Google Maps. O produto está em testes e deverá ser liberado para o público ainda neste ano. De seu escritório em Sidney, Austrália, Lars Rasmussen falou à INFO sobre a nova onda do Google e o maremoto que ele quer provocar com ela.
INFO - O que motivou vocês a investir no desenvolvimento do Google Wave?
RASMUSSEN - O motivo número um é que há muitas formas de comunicação que se sobrepõem. Às vezes é difícil decidir entre usar e-mail, wiki, blog, mensagem instantânea ou um processador de textos online. São opções diferentes que têm muito em comum. Além disso, o e-mail, que é a forma de comunicação digital mais usada, é muito antigo. As primeiras mensagens foram transmitidas em 1965. Há muito o que melhorar numa tecnologia que tem mais de 40 anos. As mensagens instantâneas são quase tão antigas quanto o e-mail. Ambos tentam imitar formas de comunicação que eram dominantes nos anos 60. O e-mail imita o correio convencional, enquanto as mensagens instantâneas simulam uma conversa telefônica. Isso se justificava nos primeiros tempos da computação. Hoje, faz mais sentido ver o que os computadores podem fazer e imaginar a melhor forma de comunicação possível baseada neles. Foi o que fizemos.
INFO Usuários do Wave vão poder usá-lo para enviar e receber e-mail?
RASMUSSEN - Isso vai depender dos desenvolvedores. Incluímos APIs que permitem essa integração. Nós já demonstramos a integração com o Twitter. Desenvolvedores poderão criar extensões que integrem o Wave a e-mail, mensagens instantâneas, redes sociais e outras formas de comunicação na internet. É um recurso muito desejável. O Wave poderá centralizar as comunicações do usuário.
INFO - O Wave parece complicado à primeira vista. Isso pode afugentar as pessoas?
RASMUSSEN - Espero que não. Desenvolver o Wave é complicado, mas usá-lo é simples. Para comprovar isso, chamamos um grupo de crianças de oito a nove anos de idade de uma escola aqui de Sidney. Nós as convidamos para vir ao nosso escritório conhecer o Wave. Elas não tiveram dificuldade ao usá-lo. No final do dia, estavam colaborando entre si e escrevendo histórias divertidas sobre uma viagem imaginária à América. Não pareceu difícil para elas. Há muitas funções no Wave, mas não é preciso usar todas para se comunicar. Aos poucos, os usuários podem ir descobrindo mais recursos.
INFO - Haverá serviços de outras empresas compatíveis com o Wave?
RASMUSSEN - Sim. Esse é o nosso sonho. Tivemos de desenhar do zero o protocolo de comunicação Federation para o Wave. Não havia protocolos capazes de realizar esse tipo de comunicação. O Federation é aberto. Qualquer um pode usá-lo. Com ele, uma empresa como Microsoft ou Yahoo! pode criar seu próprio serviço compatível com o Google Wave. Vai ser um dia muito feliz para mim quando outra companhia criar um serviço assim.
INFO - O código-fonte vai ser liberado?
RASMUSSEN - Pretendemos publicar a maior parte do código que escrevemos. Não achamos que é realista esperar que outra empresa vá desenvolver algo como o Wave do zero. Estamos trabalhando nisso há dois anos e meio e temos mais de 60 pessoas aqui. Não é algo fácil de desenvolver. Em breve, vamos começar a publicar o código-fonte. Vamos iniciar com os componentes mais difíceis, como o que permite colaboração em tempo real. Já fizemos uma demonstração com quatro pessoas editando um documento simultaneamente. Essa é uma implementação que exige alguns truques.
INFO - O Wave será usado em empresas?
RASMUSSEN - Espero que sim. Nós o usamos em nosso trabalho. Sem ele, se quiséssemos elaborar um documento em equipe, usaríamos uma ferramenta para criar esse documento e outra para discutilo. Com o Wave, fazemos tudo de uma vez, com a mesma ferramenta. O trabalho fica mais rápido e mais fácil de gerenciar.
INFO - Que retorno vocês receberam até agora dos desenvolvedores?
RASMUSSEN - A resposta foi entusiástica. Criamos um ambiente do tipo caixa de areia onde eles podem experimentar e demonstrar coisas que criaram. Isso ainda está no começo. Por enquanto, o que queremos é mostrar que tipo de coisas podem ser desenvolvidas. Temos milhares de profissionais participando, incluindo muitos brasileiros. Nós mostramos o Wave no Brasil, no Google Developer Day, e distribuímos senhas de acesso aos participantes.
INFO - Que tipos de aplicativos vão existir?
RASMUSSEN - Tenho a expectativa de que apareçam coisas que nós nem imaginamos, criadas pelos desenvolvedores. Há duas maneiras diferentes de usar nossas APIs. Uma delas é incluindo waves em sites da web. O Wave pode ser usado para criar blogs, wikis e fóruns de discussão dessa maneira. A outra forma é estender as funções do Wave. Estamos vendo, por exemplo, muitos jogos interessantes serem construídos. O Wave cuida da transmissão e do sincronismo de dados entre os jogadores. Há também extensões que integram o Wave a outros sistemas de comunicação, bases de dados e sistemas de fluxo de trabalho. Há muitas oportunidades à frente.
INFO - O Wave vai exibir anúncios?
RASMUSSEN - Não decidimos ainda. Eric Schmidt, nosso CEO, já disse que é perda de tempo ficar se preocupando com dinheiro no início de um projeto. Nessa fase, ainda não é possível conhecer as maneiras mais apropriadas de gerar receita com ele. Obviamente, há coisas que poderemos fazer para gerar receita. Veicular anúncios é uma delas. Mas não é a única. No caso do Google Apps, nós vendemos licenças que têm um preço por usuário e por ano. Poderíamos fazer a mesma coisa com o Wave. Nesse caso, haveria uma versão gratuita para consumidores e uma paga para empresas. Elas pagariam para ter suporte, armazenamento adicional e outros itens extras.
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